Friday, November 30, 2007

Hora legal, legal mesmo

Na foto: edifício-sede do Observatório (construção: 1861), na Tapada da Ajuda
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Comecemos então pelo princípio: qual é a hora legal em Portugal? Quem é que me diz se a esta exacta hora são, como marca agora mesmo o meu computador, 23 e 6 exactas (23:06) ou se falta um minuto, passam dois ou 30 segundos para um lado ou para o outro?
Quando se me levanta essa dúvida e tenho necessidade de aferir seja o que for pela hora legal, vou a um sítio que nunca engana:
o Observatório Astronómico de Lisboa. Aqui.
Essa é a hora legal, de facto, melhor: de direito!
Se pretender visitar o sítio do OAL, pode clicar aqui.
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(Já agora: os meus parabéns aos compenheiros que tiveram esta ideia. E agradeço porque tiveram a amabilidade de me convidar e incluir nos fundadores do blog.)
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Depois desta entrada, vamos então aos relógios, ao tempo medido e aos relógios históricos de Lisboa (e arredores: vão ter uma surpresa um dia destes, se o espécime que tenho em mente ainda existir naquela esquina de um antigo palacete do Marquês de Pombal nos arredores de Lisboa: vou procurá-lo...). E há mais. Um dia destes, apareço com algo interessante nesse campo. Antes mais cedo do que mais tarde.











Fases da recolocação do relógio no chamado edifício da Hora Legal, ao Cais do Sodré, hoje. Trata-se de um relógio de quartzo, moderno. Tem razão o Professor Rui Agostinho, Director do Observatório Astronómico de Lisboa - esta não é a hora legal portuguesa, cuja única entidade emissora oficial é o OAL. Fica a curiosidade de saber se o Porto de Lisboa apaga ou não da frontaria a frase "Hora Legal". Devia apagar. O que é pena é que não haja um único relógio público em Portugal que possa ostentar esse título de Hora Legal. E as soluções técnicas são muito fáceis. Sobre a história do relógio do Cais do Sodré voltaremos brevemente ao tema.



Relógio do Convento do Carmo / Comando Geral da GNR







O relógio do Convento do Carmo, Comando Geral da GNR, está prestes a entrar de novo em funcionamento. Trata-se de uma máquina presumivelmente francesa, da região de Morez du Jura, importada no final do séc. XIX ou início do séc. XX. O relógio tem mostrador para o Rossio e batia horas e quartos em dois sinos, mas parece que agora passará apenas a accionar um.

Relógio volta mas hora legal não

In Diário de Notícias (30/11/2007)
MARINA ALMEIDA
ANA COSTA-ARQUIVO DN (imagem)

«O relógio deverá voltar hoje ao Cais do Sodré, em Lisboa. Mas não a hora legal, pois, desta vez, o relógio não vai estar ligado aos cinco relógios atómicos do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). "É um relógio qualquer, mais preciso ou menos preciso, mas a Administração do Porto de Lisboa (APL) não pode manter a etiqueta de hora legal", diz ao DN Rui Agostinho, director do OAL.

O dispositivo deverá, segundo a APL, que tem jurisdição da zona, ser instalado até hoje. Esteve fora do local por causa das obras que decorrem ao lado, segundo a APL. No entanto, a sua falta de precisão tem décadas. Rui Agostinho diz que "desde o 25 de Abril" que o relógio está "ao abandono." O astrofísico disse ao DN que recentemente "desafiou a APL a fazer a hora legal" regressar ao Cais do Sodré mas nunca recebeu resposta. A certificação da hora legal faz-se através de uma linha telegráfica, a cada dois segundos, com sinais horários que regulam o relógio. "Um relógio pode atrasar 15 a 30 segundos por mês", alerta. Já "a hora legal mantém o padrão do tempo".

Rui Agostinho sabe a importância do que é ser guardião da hora. Por um minuto se ganha ou se perde. "É um valor essencial, e à medida que a nossa vida é mais electrónica, a hora ganha ainda mais importância", alerta. Nos últimos anos "houve vários casos [em tribunal] em que fomos chamados a dar explicações mas cada um [cada entidade] tem a sua hora..." , conclui com desalento. Lamentando o fim da hora certificada, questiona: "Qual é a garantia de qualidade daquela hora?"

O DN tentou, sem sucesso, até à hora de fecho desta edição, obter esclarecimentos da APL.

O primeiro relógio da hora legal chegou ao Cais do Sodré em 1914. Este exemplar foi substituído em 2001 pelo que agora regressa ao local e que tem "tecnologia digital e design bem mais moderno", segundo a APL. O exemplar original está exposto na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara.»

Esta notícia diz bem da aberração com que tratamos o tempo e os relógios.

Para os responsáveis da Administração do Porto de Lisboa, a Hora Legal é um fait divers, e tanto pode ser mecânico como digital, fazer publicidade a uma marca de relógios ou estar em cima de um contentor. Tanto se lhes dá. Compreende-se.

O que não se compreende é como a quem de direito tanto se lhe dá o que o Observatório Astronómico de Lisboa considera ou a APL acha. Fazendo horas, portanto. Esquisito, este país.