Tuesday, January 29, 2008

Ano novo, vida nova, reponham a hora legal no Cais do Sodré e acertem as horas na Ajuda!

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro, Eng. José Sócrates,
Exmo. Senhor Presidente da Câmara, Dr. António Costa
Exma. Senhora Ministra, Drª Isabel Pires de Lima,
Exmo. Senhor Ministro, Eng. Mário Lino,
Exmo. Sr. Presidente da APL, Dr. Manuel Frasquilho,
Exmo. Sr. Presidente do IGESPAR, Dr. Elísio Summavielle,


No seguimento da criação do presente Observatório e do ponto de situação que entretanto fizemos sobre os relógios históricos de Lisboa, vimos por este meio chamar a atenção de Vossas Excelências para a gravidade de dois casos em particular: a Hora Legal do Cais do Sodré (que já não é) e a Torre do Galo (que continua mudo).

Como é do conhecimento de V.Exas, o relógio da Hora Legal é aquele que está ligado aos relógios atómicos do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), e que, até há bem pouco tempo, estava localizado junto ao Cais do Sodré, no que se chamou Edifício da Hora Legal.

Embora sofrendo de problemas técnicos desde há mais de 20 anos, o relógio que se encontrava nesse local foi, efectivamente, o relógio da Hora Legal.

O problema é que Administração do Porto de Lisboa (APL) achou por bem (sem ter em consideração as observações do OAL) substituir o relógio que lá estava por um relógio de quartzo, moderno, bem como interromper a ligação do mesmo ao OAL. Por conseguinte, a hora que será exibida pelo novo relógio não será nunca a hora legal portuguesa ... como foi até ao dia em que se iniciaram as obras de construção dos edifícios da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu de Toxicodependência, e que levaram a que o relógio fosse retirado do local.

Curiosamente, e também relacionado com a Ajuda, também outro importantíssimo relógio histórico de Lisboa se encontra olvidado por quem de direito: a chamada Torre do Galo, junto ao Palácio da Ajuda - palácio nacional, sede do Ministério da Cultura e do IGESPAR, e sala de visitas das individualidades estrangeiras que nos visitam.

Como também é do conhecimento de V.Exas., com a construção da Real Barraca, à Ajuda, fez-se nova Patriarcal, de que a Torre do Relógio ou do Galo (por ter um catavento em forma de galo) fazia parte. A comunidade da Ajuda regeu-se durante mais de um século por este marcador público do Tempo e, por exemplo, o regulamento da Biblioteca vizinha refere, no horário, que a entrada dos funcionários e o encerramento dos serviços se devia fazer obedecendo diariamente ao que os sinos da torre e o seu relógio ditassem.

("MAFRA, José da Silva, relojoeiro do convento de Mafra, "artista habilíssimo", nascido a 1790, foi o autor do mais notável relógio Português que foi colocado na extinta Patriarcal de Lisboa, começando a trabalhar no dia 8 de Setembro de 1796. A obra durou mais de cinco anos a fazer e custou mais de 100.000 cruzados. O construtor ficou seu cuidador, seguido dum seu filho que ficou a exercer o cargo a partir de 24 de Dezembro de 1814, até à extinção da Patriarcal. José Mafra, em 1843, inventou um mecanismo, "por meio do qual se reduziu a um só o emprego diário de dois homens, que eram absolutamente indispensáveis para dar corda ao dito relógio". Fez uma fábrica de peças licenciada por alvará de 21 de Junho de 1785. Entre os manuscritos da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, encontra-se um Rol de Confessados de 1812, do Sítio da Ajuda, onde se faz referência ao "relojoeiro da Patriarcal, José da Silva, natural de Mafra", o que mostra que o seu apelido de família era Silva, mas que, a partir dele, o local de nascimento, Mafra, passou a ser apelido, o que era normal na época.", in «Relógios e Relojoeiros - Quem É Quem no Tempo em Portugal» (Âncora, 2006).

Simplesmente, um incêndio que terá sofrido no final do séc. XX fez com que as estruturas interiores da torre, em madeira, estejam em risco iminente de ruir. No seu interior, lá em cima, e em que estado... poderá estar um dos mais interessantes exemplares da relojoaria grossa nacional.

Tendo em conta o que acabamos de expor, e os últimos desenvolvimentos relacionados com a desafectação de terrenos da APL para a CML, vimos, pelo presente, solicitar a V.Exas.:

- A reposição do exemplar original da Hora Legal, actualmente em exposição na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara, e a sua reconexão aos relógios atómicos do OAL , a fim de que um relógio público volte a mostrar a Hora Legal a todos quantos habitam, trabalham e visitam Lisboa;

- A recuperação da Torre do Galo, com o restauro da máquina de Silva Mafra e sua musealização e contextualização in situ, que, deste modo, poderia ser o primeiro passo no sentido da intervenção geral de reabilitação de toda a envolvente ao Palácio da Ajuda, que todos desejamos mas que, ciclicamente, é anunciada e adiada. A recuperação da Torre do Galo iria enriquecer também o trabalho que o Palácio Nacional da Ajuda vem desenvolvendo no campo do estudo e divulgação do seu próprio acervo. Neste caso, da sua colecção de relojoaria, uma das mais importantes da Europa (tema, recorde-se, da exposição "Tempo Real" e respectivo catálogo, na década de 90).


Na expectativa da concordância de V.Exas. em restabelecer a verdade histórica nestes dois relógios de Lisboa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos


Maria Amorim Morais, Fernando Correia de Oliveira, Paulo Ferrero e Virgílio Marques

Wednesday, January 23, 2008

Algo de estranho se passa ali ...

Não é que o relógio do Arco da Rua Augusta estava certinho, certinho como um pêndulo, ainda há coisa de minutos?

Monday, January 21, 2008

O Relógio do Arco da Rua Augusta está atrasado quase 1 hora!!!


Afinal, parece que o Sr. Cousinha se enganou.

Sunday, January 6, 2008

Sul e Sueste







Neste caso, como noutros, fica-se na dúvida sobre por onde começar: se pelo estado do relógio, se pelo estado do edifício, porque a imagem de desconsolo é a mesma para onde quer que se olhe na Estação Fluvial de Sul e Sueste. Quando se espera um transporte é no relógio da estação que se confia, mas neste caso, como noutros, o entendimento parece ser outro: parado, com o mostrador partido e embaciado pela humidade do Tejo, este relógio é hoje um elemento deixado à deriva, da mesma forma que à deriva está, em matéria de conservação, esta peça de arquitectura-chave (projecto de 1928/9, aberto à exploração em 1931) do nosso primeiro modernismo.

O seu autor, que muitos relembrarão de imediato pelo contributo que deu aos anos de ouro do cinema português com A Canção de Lisboa, foi sobretudo arquitecto, de equipamentos públicos, em particular ao serviço dos Caminhos-de-Ferro, de que foi quadro ao longo de toda a sua vida adulta: Cottinelli Telmo (1897-1948), “espírito irrequieto e apaixonado”, como escreve o Prof. José-Augusto França, cuja avidez pela vida o levaria a dedicar-se a um sem-número de outras actividades como a ilustração, com realce para a BD, a música ou a dança.

A 18 de Setembro deste ano passarão 60 anos sobre a sua morte, em circunstâncias trágicas, num acidente de pesca nas águas de Cascais. A ter que se começar por algum lado nesta que foi uma das principais estações que projectou, por que não começar pelo relógio, restaurando-o?


Créditos das três últimas imagens: Fachada principal da estação fotografada por Fernando de Jesus Matias, em finais dos anos 50/Arquivo Fotográfico de Lisboa; Ficha de registo de Cottinelli Telmo como funcionário dos Caminhos-de-Ferro/Arquivo da CP

Ainda o(s) relógio(s) da Estação do Rossio


Dos arquivos da CP, uma imagem preciosa dos primeiros anos do século XX (cerca de 1910), quando a empresa investe em nova sinalética, assim “facilitando o trabalho dos empregados da estação e a informação aos passageiros”. Vários mostradores de relógio indicavam, então, as horas de chegada e de partida das composições, para que ninguém ficasse em terra.


Créditos imagem: Site da CP

Friday, January 4, 2008

Relógios Históricos de Lisboa

O primeiro relógio mecânico de que se tem conhecimento em território português é o colocado em 1377 na Sé de Lisboa, pago em partes iguais pelo rei D. Fernando, pelo cabido e pelos homens bons da cidade. Teria sido o seu autor um tal “mestre João, francês”.
Seria um exemplar de relojoaria grossa (em contraponto à relojoaria fina, de bolso ou de pulso), com as peças arrumadas numa armação de ferro, ou gaiola, e muito provavelmente não teria ponteiros ou mostrador – serviria apenas para accionar sinos, como o “de correr” ou “de colher”, que regulava de manhã e ao sol posto o abrir e fechar de portas da judiaria e da mouraria. Dessa máquina nada resta. O relógio da Sé foi o primeiro grande marcador do tempo colectivo de Lisboa, conquistada ao Islão em 1147 mas apenas tornada capital do reino em 1256.
O casamento, em 1387, de D. João I, com Filipa de Lencastre, permite a Portugal aceder à tecnologia relojoeira do norte da Europa.
Com D. Manuel, o Paço, que até então era na Alcáçova árabe (Castelo de São Jorge), muda-se para a Ribeira das Naus. Junto ao Paço e à Capela Real passa a haver Torre do Relógio, havendo registo desde essa data dos relojoeiros reais. Este é o segundo grande marcador do tempo colectivo lisboeta.
Com D. João V, a Capela Real passa à condição de Igreja Patriarcal e a Torre do Relógio é demolida, para ser construída uma outra, ao estilo barroco, encomendada ao arquitecto italiano Canevari. A nova torre e o seu relógio são referidos com admiração e espanto pelos forasteiros. A máquina deveria ser flamenga, como o são os exemplares que ainda hoje se encontram no Convento de Mafra. Mas a torre de Canevari tem vida efémera, com o terramoto de 1755.
A família real muda-se para a Ajuda, passando a viver na Real Barraca, uma construção em madeira. Com ela muda-se a Capela Real, também construção efémera. Em 1793 acaba a construção adjacente ao conjunto do único edifício em pedra – a torre sineira da capela. Três anos depois, é lá instalado um relógio de José da Silva Mafra. Este foi o terceiro marcador do tempo real, mas o Paço da Ajuda sempre foi periférico ao pulsar da cidade. O relógio de José da Silva Mafra, ainda lá se encontra, mas ao abandono.
No final de 1883, Augusto Justiniano de Araújo, fundador da Escola de Relojoaria da Casa Pia, superintende à adaptação de um relógio proveniente do Convento de Jesus (hoje Academia das Ciências) e sua colocação no Arco da Rua Augusta. O arco foi o quarto grande marcador colectivo do tempo alfacinha – a primeira máquina ainda existe mas foi substituída em meados do século XX por uma de autoria de Manuel Francisco Cousinha, que acaba de ser restaurada. Mas, ao longo de mais de um século, devido à sua falta de exactidão, o relógio do arco da Rua Augusta nunca conseguiu erigir-se à condição de regulador das horas da cidade.
Desde 1857 que funcionava a partir do Observatório Astronómico do Castelo de São Jorge um sistema de meridiana, da autoria de Veríssimo Alves Pereira. Ao meio-dia solar, o sistema fazia troar uma pequena peça de artilharia. A meridiana mudou-se depois para a Escola Politécnica. Funcionou até cerca de 1915. Este foi o quinto marcador colectivo do tempo lisboeta, mas das meridianas nada resta.
Desde 1858 que funcionava junto ao Observatório Astronómico da Marinha o chamado Balão do Arsenal, um dispositivo que assinalava diariamente as 13h00 com a queda de um balão de um mastro e um sinal sonoro. Este foi o sexto marcador colectivo do tempo na capital, mas também dele nada ficou.
Desde 1915, ano em que o Balão do Arsenal desapareceu, que funcionou, ao Cais do Sodré, o relógio da Hora Legal, com o tempo a ser emitido por circuito eléctrico a partir do Observatório Astronómico de Lisboa. Depois de vicissitudes várias, o sétimo e último grande marcador do tempo colectivo da capital deixou de poder ostentar o título de Hora Legal.
Assim, Lisboa singra alegremente pelo século XXI sem respeitar o seu património público relojoeiro e sem ter um único marcador colectivo de tempo que seja fiável, reconhecido e estimado pelos seus habitantes e pelos forasteiros que a demandam.
in Casual, suplemento do Semanário Económico de 28/12/07 (adaptado)

A Capital às voltas com a hora legal

In Notícias da Manhã (4/1/2008)
Ana Serra

«O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem». Assim o diz o trava-línguas, num diálogo entre o tempo que diz respeito à meteorologia e o tempo do relógio, o que conta os segundos, minutos e horas do nosso dia-a-dia. A necessidade de cronometrar as actividades da nossa vida levou a que, durante toda a sua evolução, o homem viesse a desenvolver ciências e instrumentos que regulassem esse fenómeno transcendente ao Ser Humano - o tempo. A astronomia e a astrofísica são ciências intimamente ligadas ao controlo do tempo, ou não fosse através do Sol uma das formas mais elementares de nos guiarmos no tempo. E é também em função do Sol, ou melhor, na tentativa de aproveitar ao máximo as horas de luz que este nos disponibiliza, que surgiu o regime diferenciado de hora de Inverno e hora de Verão. Portugal adoptou esse regime em 1911, juntamente com a Inglaterra, onde se localiza o meridiano pelo qual regulamos os nossos relógios. É o meridiano de Greenwich que delimita a nossa «hora legal», segundo a qual organizamos as nossas actividades civis, sociais e profissionais. Quatro anos mais tarde foi criado o Serviço de Hora Legal e o Relógio da Hora Legal passou a ser público, acessível à população que todos os dias se movimentava na zona ribeirinha lisboeta. O Cais do Sodré foi o local escolhido para servir de pulso ao relógio que respondia à “necessidade de mostrar de forma eficaz a hora certa, principalmente na zona ribeirinha, onde estava grande parte da vida da cidade”, explica Rui Agostinho, Director do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL).

O relógio da «Hora Legal»
O relógio da hora legal do Cais do Sodré ficou então aos cuidados do OAL, o qual representa uma entidade com objectivos científicos e a única instituição capacitada, por lei, a certificar a legalidade da hora. No entanto, a manutenção física do instrumento ficava a cargo da Administração de Portos de Lisboa, uma vez que era nas suas instalações que o Relógio da Hora Legal estava exposto. Desta forma, “ao OAL competia enviar os sinais para garantir a hora legal” aos milhares de pessoas que por ali passavam e cronometravam as suas agitadas vidas quotidianas, conta Rui Agostinho, que assinala as implicações sociais e não somente cientificas de controlar a hora. Esta é uma das razões apresentadas por Rui Agostinho para que, nos anos 70, quando o Relógio da Hora Legal começa a apresentar problemas de funcionamento, o OAL pede à Administração dos Portos de Lisboa, incumbidos da sua manutenção técnica, que “seja retirado ao relógio o estatuto de hora legal para não induzir as pessoas em erro”. O estatuto foi retirado mas não a indicação que o define como o relógio da «Hora Legal».

O «tic-tac ilegal»
O relógio permaneceu, mas a hora legal não. Em 2001, o relógio que já fazia parte da história da vida na Capital foi retirado, regressando, no entanto, ao local no passado mês de Novembro, sob a forma de um instrumento de tecnologia digital e com um design mais moderno. A reposição do relógio do Cais do Sodré, mas não da legalidade da hora que dava, levou à criação de um Observatório dos Relógios Históricos de Lisboa (ORHL). “A ideia surgiu a partir da notícia da reposição do relógio da hora legal, que não é legal. Juntei-me com uns amigos e de inicio será só um blog mas depois logo se vê”, afirma um dos fundadores, Paulo Ferrero.
Apesar de ainda sem qualquer ligação de esforços, o director do OAL partilha da posição defendida pelo recém-criado observatório dos relógios históricos. “Gostaria de voltar à História e à tradição, seria bonito para a cidade de Lisboa se o relógio voltasse a ter hora legal”, confessa Rui Agostinho, que adianta já ter estabelecido contactos com a Administração dos Portos de Lisboa nesse sentido para que “o público tenha a garantia de que o relógio voltasse a ter a hora legal”. Da mesma forma, Paulo Ferrero, admite que lhe agradaria uma ligação do OAL ao ORHL “para que seja reposta a verdade naquele relógio”.

Observatório dos Relógios Históricos de Lisboa
“Apenas nos interessam os relógios históricos e entre eles os mecânicos e os de sol, já que dos astronómicos nem vê-los por cá. Em Lisboa, o panorama é mau, pelo estado de abandono, uns, pela ignorância e desprezo com que são tratados, outros. Vamos dar tempo ao tempo e ver se chegamos a horas para alguns deles”. Estas são algumas das primeiras linhas do blog que dá imagem a este observatório. “Chamar a atenção dos cidadãos e lançar apelos às entidades” para a protecção dos relógios históricos da Capital são o principal objectivo do ORHL. São muito os relógios emblemáticos que contam as horas e os minutos de Lisboa, mas que agora, na era digital e electrónica, estão votados ao esquecimento e abandono, quer por parte das autoridades competentes da sua manutenção, quer pelos próprios cidadãos que por eles passam, sem se aperceberem da sua existência.

“Preservação da nossa arte e História”
À criação deste Observatório dos Relógios Históricos de Lisboa, Rui Agostinho responde considerando-a “uma boa medida, tal como todas as que se dediquem à preservação da nossa arte e História”. Também o OAL se dedica à preservação de relógios históricos, que, neste momento, não desempenham um serviço útil, pois não são necessários, mas que devem ser mantidos em boas condições. Sendo a hora, o «tic-tac» vital da vida em sociedade, o director do OAL salienta a importância da certificação de que esse batimento está certo e acessível a toda a população. Para tal, Rui Agostinho defende a ligação dos relógios públicos ao OAL, não só em Lisboa, mas também em outras cidades do País. “Garantimos qualidade da hora, mas precisamos de parceiros, tais como, fabricantes de relógios e câmaras municipais. È um grande desafio, mas possível”, afirma o director do OAL, Rui Agostinho.

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O relógio da Torre do Galo
O relógio da Torre do Galo situa-se na Ajuda, tendo sido a torre que o alberga, construída junto à capela real da Real Barraca. Vizinho do Palácio da Ajuda, este marcador do tempo começou a trabalhar em 1976, fruto da obra do relojoeiro do Convento de Mafra, José da Silva Mafra. Em 1794, a capela real ardeu e, desde aí, a sua estrutura encontra-se em risco eminente de ruir. O ORHL vem então alertar para o estado de degradação da zona que envolve o relógio. “A torre ardeu, estando o relógio em risos de ruína, embora o mecanismo esteja bem”, advertiu Paulo Ferrero, adiantando que o ORHL pretende, já no próximo mês de Janeiro, fazer um “apelo ao Ministério da Cultura e ao Ministério das Obras Públicas por causa da situação do relógio da Ajuda e de toda a zona envolvente do palácio”.

O relógio dos Capuchos
Ninguém dá por ele, mas ele existe há já 421 anos no Hospital dos Capuchos, onde dá nome ao pátio que adorna - Pátio do Relógio. É um dos exemplares mais antigos de relógios de Sol, situado na antiga cisterna do convento dos Capuchos, servindo a boca de apoio ao relógio em pedra, onde ainda podem ser lidas as iniciais do construtor e a data da sua construção, 1586. O seu estado de má conservação testemunha o esquecimento e indiferença a que foi lançado e que o ORHL pretende relembrar.

Relógio de Sol de Belém
Ao passear pelo jardim dos Jerónimos pode ser vista uma grande âncora, talvez uma herança de algum navio naufragado, um testemunho dos Descobrimentos portugueses? Pois não, pode não parecer mas esse grande objecto de metal era um relógio de Sol, ali exposto aquando da Grande Exposição do Mundo Português, em 1940. À sua volta, estavam dispostos vários canteiros sob a forma de «mapa mundi», que representavam os quatro cantos das ex-colónias lusas. “O jardineiro que o preservava reformou-se nos anos 90 e desde aí, o relógio de Sol ficou reduzido a nada mais que uma âncora”, explica Paulo Ferrero»

O meu obrigado à Ana Serra e ao Notícias da Manhã.

Thursday, January 3, 2008

Terreiro do Paço anda perdido nos caprichos do tempo

In Público (1/3/2008)
Ana Henriques


«Relógio do arco da Rua Augusta está parado por causa de desajuste entre mestre relojoeiro e organismo do Estado


Tudo começou há quatro meses com uma pequena oscilação, o ponteiro dos minutos a correr mais veloz do que o próprio tempo, noutras alturas a molengar, sem pressa de chegar a horas ao destino. À medida que passavam os dias agravava-se a rebelião do relógio do arco da Rua Augusta, junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa. Ontem, às 11h00, o mostrador marcava orgulhosamente dez para as cinco da tarde, como se o mecanismo seguisse um outro qualquer fuso horário. E dias houve em que teimou em anunciar a hora correcta, porventura com a certeza de que as actividades mundanas já tinham deixado de se regular por si.
Há quatro meses era tudo mesuras: a então ainda ministra da Cultura debruçada sobre as suas entranhas, o mestre relojoeiro, vereadores e assessores a subirem ao topo do arco para celebrarem a reparação de um mecanismo que estava quieto há vários anos. O arranjo foi pago por uma empresa de relojoaria, a Torres, que fez um protocolo com o Instituto de Gestão do Património e desembolsou cerca de 25 mil euros. Só que o tiquetaque certinho que encantou toda a gente foi sol de pouca dura. Nos dias seguintes, o mestre relojoeiro que fez a reparação, Manuel Cousinha, atribuiu os pequenos devaneios do ponteiro dos minutos à necessidade de fazer alguns ajustes ao pêndulo. Que era mesmo assim, dizia, sem poder adivinhar o destrambelhamento que se avizinhava. Hoje confessa sem pudor a sua angústia: "Está parado, e há-de parar muitas mais vezes". Porquê? A resposta não podia ser mais irónica: por causa do tempo. Ou melhor, da noção que dele têm diferentes pessoas, neste caso ele e o organismo que tem o arco à sua guarda.
Cousinha diz que foi há um mês que tudo mudou, quando a chave do arco transitou para as mãos da Direcção Regional de Cultura de Lisboa. Habituado a pedir a chave a qualquer hora para ir afinar o volúvel relógio, viu-se obrigado a vergar-se aos horários do funcionalismo público. Já só podia mexer nas rodas e no pêndulo a horas decentes, e sempre acompanhado de um funcionário do Estado. Depois da máquina, foi a vez de o homem se rebelar: "É caricato, ridículo. Não nos deixam trabalhar, estou revoltadíssimo". O pior é que na direcção regional também há quem se queixe de ter ficado horas a fio à espera do consertador de relógio. Na versão oficial dos factos, Cousinha nunca se queixou dos novos horários. "Se ele tem algum problema temos toda a disponibilidade para ir lá fora de horas", asseguram os responsáveis deste organismo.
Calibrada nos mecanismos dos dispendiosos relógios de pulso que importa para Portugal, a casa Torres vê com maus olhos o que se está a passar. "O funcionamento do relógio do arco da Rua Augusta já devia ter entrado em velocidade de cruzeiro. Não estávamos à espera que isto acontecesse nesta altura do campeonato", observa Paulo Dias, da empresa. Depois deste primeiro restauro, a Torres tinha-se disponibilizado para avançar com operações semelhantes em Coimbra e no Porto, ao ritmo de um relógio por ano. Está desde Janeiro à espera que o Instituto de Gestão do Património lhe indique um relógio a precisar de restauro numa destas cidades. Os caprichos do tempo parecem também aqui ter vencido a vontade dos homens. »

Pois é. Nada que não se previsse. O relógio nunca esteve certo desde que foi 'inaugurado'. O pior, é que me parece que o problema está no relojoeiro... a seguir aqui.

Wednesday, January 2, 2008

Afinal, como é, Sr. Cousinha?




Foi notícia e teve direito a ministra e tudo. Só que, nem passados 5 dias e já estava atrasado ... e ontem estava adiantado entre 3 e 4 minutos.

Fotos: Torres

Tuesday, January 1, 2008

Onde param os familiares de Augusto Justiniano de Araújo?


O primeiro relógio colocado no Arco da Rua Augusta veio do Convento de Jesus (hoje Academia das Ciências), e foi adaptado por Augusto Justiniano de Araújo (Valença, 1843 - Lisboa, 1908). O primeiro relógio colocado no Mercado 24 de Julho era igualmente da sua autoria. Augusto Justiniano de Araújo é um dos grandes relojoeiros portugueses de sempre e o fundador da Escola de Relojoaria da Casa Pia, ainda hoje a única escola do género existente no país. Dois mistérios - o primeiro, onde pára a máquina primitiva do Mercado da Ribeira? o segundo, haverá ainda descendentes de mestre Araújo? Aqui fica o apelo público, pois estou a preparar uma monografia sobre a personagem e falta-me sobretudo iconografia. Este anúncio figura na revista que Araújo fundou, o Cosmocronómetro, e onde se referem alguns dos relógios que fabricou e os sítios onde foram instalados.