Thursday, December 18, 2008

Portugal, a China, os Relógios e um que esteve no Arco da Rua Augusta




O antigo relógio do Convento de Jesus (actual Academia das Ciências), que foi parar ao Arco da Rua Augusta, adaptado por Augusto Justiniano de Araújo, já foi restaurado, por Luís Cousinha, e está patente temporariamente numa exposição sobre um jesuíta português na corte de Beijing, que entre outras coisas fez relógios.


(extracto da Nota que fizemos ao Catálogo da exposição sobre Tomás Pereira, S.J., patente no Centro Científico e Cultural de Macau, à Junqueira, em Lisboa)

O relógio patente nesta exposição é um exemplar do século XVIII, possivelmente de fabrico nacional, provavelmente anterior ao Terramoto, proveniente do Convento de Jesus, em Lisboa, e intervencionado no final do século XIX.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o espólio dos vários conventos, incluindo relógios, passa para terceiras mãos, sejam elas o Estado ou os particulares. O Convento de Jesus passou a albergar a Academia das Ciências, local onde ainda hoje a instituição se encontra, e o relógio saiu de lá em 1883. Foi parar ao Arco Triunfal da Rua Augusta, que era finalmente construído, mais de um século após o terramoto de 1755.
O relógio do Convento de Jesus é um exemplar da chamada relojoaria grossa ou férrea e as suas peças estão arrumadas numa gaiola cavilhada, característica da técnica dos séculos XVII e XVIII. Como relata a imprensa da época, o relógio “não estava preparado para indicar as horas para o lado da rua”. Ou seja, era, como muitos exemplares do seu tempo, para “bater” e não para “mostrar” o tempo, não tinha mostrador. Assinalava sonoramente as horas e os quartos através de sinos que estavam a ele ligados. Quem o adaptou para ter mostrador e ponteiros e lhe deu um novo escape (substituindo o de folliot por um de âncora) foi Augusto Justiniano de Araújo, o fundador da Escola de Relojoaria da Casa Pia de Lisboa, ainda hoje a única que se dedica ao ensino da relojoaria em Portugal. O relógio acaba de ser restaurado, numa acção de mecenato que incluiu também a recuperação do relógio que se encontra actualmente no Arco da Rua Augusta e que o foi substituir nos anos 40 do século passado.
Escolhemos este exemplar de relojoaria grossa para ilustrar o tipo de relógios que os padres jesuítas fabricavam no século XVII na China. Foram os portugueses que introduziram a relojoaria mecânica, primeiro na Índia, depois na China, no Vietname, na Coreia e no Japão, quase sempre pela mão pioneira dos Jesuítas. […]
Tomás Pereira (1645-1708), músico de formação, construía os seus próprios órgãos e, aplicando os conhecimentos musicais e mecânicos, construiu mesmo um enorme carrilhão, com relógio, que colocou numa das torres da igreja dos jesuítas, na capital do império. É esse relógio com carrilhão que aparece na célebre gravura incluída na Mursurgia Universalis, de Atanásio Kircher, de 1650. O mecanismo de relojoaria accionava um tambor com espigões, semelhante aos das caixas de música, que por sua vez accionavam arame ligados a sinos, assinalando todas as horas com melodias tradicionais chinesas. […]

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